PRECONCEITO / ESTRANHEZA / MEDO?

Preconceito é um juízo pré-concebido manifestado geralmente de uma forma discriminatória, perante pessoas, locais ou tradições consideradas “estranhas”. Poderá ser social, racial ou sexual. É uma ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial, é uma opinião desfavorável que não é baseada em dados objectivos, é equivalente a intolerância, pode ser designado também como uma cegueira moral ou superstição.

Todos nós temos tendência para desconfiar do que não conhecemos, mas a educação, a sensibilidade, a maturidade e a inteligência faz-nos diferenciar o preconceito da estranheza. O natural é ficarmos apreensivos perante algo que não conhecemos, mas o correcto é tentarmos perceber, procurarmos o porquê das coisas, compreendermos, tentarmos aceitar ou pelo menos não crítica e percebermos que os nossos próprios actos podem não ser considerados assim tão naturais para outros. Não podemos ver o mundo de uma só perspectiva.

Ultimamente tenho reflectido sobre as tendências sexuais das pessoas, o preconceito que existe à volta deste tema e a minha verdadeiro postura sobre o assunto!
Se olharmos em volta podemos verificar que o mundo mudou e continua a mudar a passos largos, que as relações sociais já não são mais as mesmas, que nos expressamos de formas distintas, que cada um assume e luta pela sua sexualidade, tendo que passar por muitos obstáculo, principalmente e ironicamente o de não ser aceite pelas suas mais intimas escolhas.
Embora tenha uma orientação sexual considerada “normal” até ao momento, compreendo ou pelo menos tento compreender aqueles que não a têm. Não posso dizer que aceito com naturalidade, não deixo de me sentir pouco à vontade e de fazer um “esforço”, infelizmente tenho que admitir que ainda é um esforço, para aprovar.
Não quero dizer que não aceito as pessoas, as preferências sexuais de cada um não afectam em nada o carácter, a inteligência, a beleza interior de cada um, posso é ter dificuldade em compreender as suas escolhas e de conviver naturalmente com isso. Talvez porque nunca tenha convivido muito de perto com esta situação, não lhe sei dar a consideração devida, só tenho a certeza que é uma situação cada vez mais presente no nosso dia a dia.

Quem me fez despontar para esta reflexão foi o cantor Ricky Martin no dia do espectáculo que assisti a 23/06/11 no Pavilhão Atlântico.
Não sou uma das suas maiores fãs mas gosto muito deste artista, de muitas das suas músicas, da sua discrição, da sua acção social, da sua presença e principalmente da sua beleza! Para mim, Ricky é um homem dos mais lindos, completo, quase “perfeito”! …embora perfeição não seja capacidade de nenhum mortal! …
Como apreciadora de música latina, tenho acompanhado um pouco de longe a sua carreira desde 1996 e mais de perto desde 2006, altura em que o cantor começou a demonstrar maior maturidade pessoal e artística, o que me atrai muito nele.
Com o seu novo álbum “MAS” Musica, Alma e Sexo e o seu livro “EU”, Ricky Martin pretende assumir-se perante o mundo, o que está claramente expresso no espectáculo que assisti e o que muito me fez pensar! O propósito geral do álbum não é só esse, mas o de chamar a atenção para todos os preconceitos que rodeiam o ser humano, embora evidenciando a questão sexual. Foi isto que me fez pensar, porquê esta necessidade de dizer ao mundo, não será o bastante aceita-lo pessoalmente?
Embora não tenha sido uma completa surpresa, continua-me a custar crer que um homem tão lindo, com tantas características de um símbolo sexual, seja gay, não mudando contudo a admiração que tenho por ele.
Não acho que isto seja preconceito meu mas medo, medo que daqui para a frente seja difícil encontrar pessoas como as que sociedade nos obrigou a crer como normais e não consiga achar normal, medo de não conseguir gostar da nova sociedade, dos novos “eus”.

Tenho curiosidade em saber como esta revelação de RM irá afectar a sua carreira e a sua postura daqui para a frente. Será que o mundo está preparado para este “confronto”? No fundo acho que eu não estava!

Comentários

Anónimo disse…
Esse desconforto, essa estranheza que dizes sentir perante as mudanças sociais mais especificamente no que se refere á orientação sexual, pode ser ultrapassado fácilmente se tiveres o engenho de alargar o teu conceito de normalidade...a normalidade é um conceito muito relativo que muda de cultura para cultura e de época para época...dou-te aqui um exemplo: antigamente era normal um homem casar com várias mulheres, hoje em dia isso é proibido na maioria dos paises ...estamos e estaremos sempre numa época de mudança onde o normal de hoje difere do normal de ontem...mas ambos são normais apesar das diferenças...
Alex.B disse…
Tenho um conceito de normalidade bastante alargado, só não queria que o Ricky Martin fosse gay!!!

...Partindo do principio que tu tens o teu conceito de normalidade alargado vou comentar.

Quase sempre acabamos por nos adaptar ás mudanças da nossa "época/cultura", mas à medida que amadurecemos temos mais dificuldade em aceitar novas mudanças, não quer dizer que não as aceitamos, o processo pode é demorar mais tempo.
A definição que apresentas é verdadeira mas a meu ver muito científica. Uma coisa é a teoria e outra é a prática.
Ter "medo" de não ser capaz de aceitar algo como "normal" é humano, analítico e não deixa de ser normal.
Por mais abertos que estejamos às mudanças devemos analisar a nossa posição pessoal, que depende sempre das nossas experiências de vida.
Ex: Falando em orientação sexual, se as pessoas começassem a andar nuas na rua e a fazer sexo nos comboios e autocarros em hora de ponta não irias questionar porque o teu conceito de normalidade é alargado???...

Neste último século as mudanças foram muito mais rápidas do que nos séculos anteriores e só se passaram dez anos. A facilidade em comunicar ajudou em muito essa celeridade.
Notou-se nitidamente a mudança rápida do conceito de sociedade, de família, de casamento, de sexualidade...
Os filhos deste século talvez não consigam nunca ganhar um conceito de normalidade, porque tudo muda rapidamente e a habituação é automática, por tal já nascem com esse tal engenho?!?... Isso passará a ser o "normal" para estes indivíduos.
Eu, por ter nascido numa sociedade com mutações mais lentas, questionarei sempre se isso será "normal", ou seja, se será melhor ou pior, se gosto ou não gosto, o que não quer dizer que não aceite... e tu também cara sobrinha.

Gosto de te ler!
Anónimo disse…
Cara amiga, estás muito equivocada !
Liberta-te desses preconceitos (mesmo que te tenham ensinado assim) e perceberás que a orientação sexual não é uma escolha, mas sim algo intrínseco.
A atração, o interesse, o desejo pelo mesmo sexo ou pelo sexo oposto é algo que já nasce com a pessoa, não pode ser influenciado por circunstâncias externas ou por outras pessoas. Assim como tu não podes escolher por quem te apaixonar ou não -simplesmente acontece- o mesmo se passa em relação à preferência sexual.
Era bom que as pessoas percebecem isso!
O exemplo que dás no e-mail acima, não tem nada a ver, não é sequer uma situação comparável!
O que cada um decide fazer entre 4 paredes,na privacidade da sua casa e sem incomodar ninguém,só a ele diz respeito.
Já nos espaços públicos,de facto,tem que haver regras para não se incomodar os outros. Andar nú pelas ruas ou fazer sexo nos comboios poderá de facto incomodar muita gente. Sejam homossexuais ou heterossexuais!
Vá lá saber-se o gosto sexual de cada um? Há muito boa gente "normal" como dizem, com gostos sexuais repugnantes,esquisitos,desviantes,anti-natura, etc. Mas como estão "mascarados" pela capa da heterossexualidade...ninguém os critica!
No fundo o que quero dizer é que temos que respeitar a diferença pois é isso que nos torna interessantes.
Cada um é como é . Estamos a falar de sentimentos bons,de amor,de intimidade entre 2 pessoas. O que é que há de mau nisso ? ! E vai ser prejudicial para quem ? !
Sei que é um pensamento difícil de mudar,quando sempre se pensou assim,mas nunca é tarde para o fazer.
Não são os homossexuais que têm problemas,são os outros,que não conseguem compreender algo tão simples! Eles sabem bem o que sentem e o que querem.Os OUTROS é que fazem disso um problema!
Assinado: um OUTRO que não tem problema com a diferença
Alex.B disse…
Devo escrever muito mal ou a/o anónima/o não me compreendeu!
Não me sinto equivocada, nem com necessidade de me libertar de preconceitos, respeito as diferenças e tenho as minhas opiniões, as minhas posições pessoais que não escondo, nunca pretendendo com isso ferir ou desrespeitar ninguém. Amor é universal e sentido de variadíssimas formas, cada um que escolha a sua!
O exemplo escolhido pode não estar correcto se estivesse só a escrever sobre homossexualidade. Pretendi exemplificar o meu conceito de normalidade, a alguém que conheço e me conhece para além de escrever, talvez por isso algo fique omisso na escrita.
Obrigada pelo comentário, não disseste nada com o qual eu não concorde mas não gostei da forma erradamente crítica que me foi dirigida. Fico feliz por não teres problemas com a diferença!

…só não queria que o Ricky Martin fosse gay!!! Continuo a gostar dele mas preferia-o na minha cama, uma vez que até agora ainda sou heterossexual e com todo o direito de me expressar como tal, sem ferir susceptibilidades…