“Mais vale só que mal acompanhada”!

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É completamente errado pensar que qualquer tipo de violência é uma forma de amar ou de ser amado.

Uma amiga começou uma relação amorosa à relativamente pouco tempo. Comecei a notar que desde então a sua forma de estar se alterou: anda constantemente nervosa, com alterações de humor repentinas, maior parte das vezes está triste, desmotivada, deprimida… Após trocarmos algumas palavras compreendi que existe violência emocional nesta relação, exercida pelo companheiro. Aos poucos ele tem-se apoderado da sua privacidade, do seu tempo, do seu dia-a-dia, com o objectivo de controla-la, baixando assim cada vez mais a sua auto-estima.
Penso que ela ainda não se apercebeu do real perigo que calmamente se instala na sua vida.

Felizmente nunca passei por este tipo de relação, mas sei que não é difícil cair numa. Gostava muito de a ajudar, por isso escrevo esta mensagem com base em alguns relatos e conhecimentos adquiridos ao longo da minha “curta” vida, esperando que surta algum efeito.

Muitas pessoas, em ocasiões que se sentem mais fragilizadas, sós, carentes, pensam que qualquer tipo de relação é preferível a nenhuma.
O que acontece é que estas relações quase sempre evoluem para pior, nunca para melhor! Quem se sujeita a este tipo de violência é quase sempre apanhada numa altura de fragilidade. Isto não só acontece com pessoas com uma personalidade fraca ou com pouca experiencia de vida, acontece também com pessoas fortes com grande poder de decisão mas que se sentem sós e precisam de uma companhia, como é o caso.
Inicialmente acham que a violência, seja ela qual for, é uma demonstração de amor. De dia para dia e aos poucos a situação agrava-se deixando-as ainda mais enfraquecidas e sós, levando-as a considerar que os poucos momentos bons que têm com o “agressor” compensam os maus ou os solitários. Muitas vezes culpam-se pela violência, acham que de alguma forma podem ter provocado as agressões, perdem cada vez mais a auto-estima acabando por aceitar tipos de violência ainda piores. Tornam-se dependentes destas relações, muitas vezes sem saber como sair delas.

Amiga, como sabes faz algum tempo que me encontro só. Nem sempre é fácil viver sem companheiro, mas nesta minha solidão encontro prazer em muitas coisas possíveis de não partilhar. Tenho o meu espaço que é só meu, tempo que é só meu, os meus bons momentos, as minhas viagens, os meus passeios, os meus desejos repentinos, os meus caprichos e ninguém põe ou dispõe na minha vida, só quando eu deixo e porque são merecedores.
Não é difícil perder o rumo, entrar em depressão, ou perder a auto-estima, mas tento sempre fazer o meu melhor e só isso é uma boa razão para gostar cada vez mais de mim e saber que mereço ser bem amada, na hora certa e pela pessoa certa!
A solidão não há-de dura para sempre! De certo irá aparecer, não o homem perfeito, mas o ideal, um que me mereça. Há que saber viver só até lá.
Em contrapartida encontramos sempre alguns bons amigos disponíveis para nos satisfazer alguma carência mais urgente.

És uma mulher bonita, lutadora, inteligente e acima de tudo merecedora de respeito. Faz valer os teus direitos, não aceites quem não te merece. Embora por vezes te pareça que é o melhor que tens neste momento, pensa que a violência nunca é boa. Procura ajuda nos amigos e até num especialista se for necessário.

Para ti e para todas as amigas que possam estar a passar por uma situação semelhante: as minhas palavras, a minha amizade, a minha casa, o meu ombro amigo e a minha ajuda.

Peço a quem ler que comente com um exemplo que conheça ou pelo qual já passou. Podem comentar como anónimos se não se quiserem identificar. Quem estiver interessado consulte também a hiperligação no título que vos leva a um site sobre violência.
Como comentar:
Para quem não tem blogg, pode deixar uma mensagem da seguinte forma:
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Obrigada

Comentários

BBRIGHT* disse…
NÃO, NÃO e NÃO! Se não gostarmos de nós próprios quem gostará? Fico completamente revoltada quando penso que pode haver alguém próximo a mim que esteja a sofrer qualquer tipo de violência, controle, opressão. Não admito que tal exista, não compreendo como é que as pessoas permitem ser maltratadas, mas também não quero nem preciso compreender! Não haverá nada pior do que deixarmos de existir porque alguém assim o decide. Tornarmo-nos invisíveis, frágeis, mudos! NÃO, NÃO e NAO! Não ao beijo depois de um estalo! Esse tipo de atitude é errada. Todos temos uma força interior que nos faz ultrapassar qualquer situação, mas só depois de a identificarmos...Mais vale só do que mal acompanhada!
Anónimo disse…
Tenho quase 40 anos e ainda hoje me lembro de situações de violência emocional e física que se passaram entre os meus pais há trinta e tal anos atrás e que ainda hoje continuam. Situações essas que me marcaram para o resto da vida e quem sabe, apesar de ter sido de uma forma negativa, prepararam-me positivamente para qualquer relação.
Na época em que os meus pais tinham 30/40 anos, era comum existir violência nos casamentos, especialmente contra as mulheres. Prefiro pensar que a falta de preparação delas, a falta de acesso à informação, o ser considerado um assunto tabu e uma sociedade que discriminava o sexo feminino, foram as razões que provocaram a infelicidade de muitas mulheres e fizeram com que muitas delas, tal como a minha mãe, mantivessem até hoje essas uniões violentas.
O que mais me marcou, além do assistir a uma constante demonstração de violência, nas palavras, nos olhares e nas ameaças, foi a forma como a relação passava rapidamente da extrema violência às demonstrações de carinho e compreensão, as quais não duravam muito tempo.
Hoje em dia, em pleno Século XXI, sabendo que a informação está disponível, o assunto é falado e discutido, ouvir falar em violência entre casais é como acreditar na falta de amor-próprio das pessoas. As pessoas não se conhecem a si próprias, não se aceitam como são e tão pouco sabem que isso é o mais importante para serem felizes.
Para essa tua amiga só desejo que acorde rapidamente para a realidade. Sim é difícil, mas não é impossível pôr temos a uma relação assim, antes que ela evolua para pior.
Anónimo disse…
Infelizmente compreendo o que essa tua amiga pode estar a passar!
Faz 2 anos que consegui terminar uma relação em que constantemente sofria de agressões verbais e, mais tarde físicas, por parte do meu companheiro. Vivemos juntos durante 4 anos e aos poucos a situação foi-se tornando intolerável. Inicialmente, conforme explicas, cheguei a achar que eu é que provocava as ofensas e convenci-me que o ciúme dele significava amor. Após um ano e meio de insultos, começaram os beliscões e encontrões, até que por fim um empurrão nas escadas levou-me directo para o hospital, com várias fracturas no corpo e na cabeça. Foi quando acordei para o absurdo em que se tornou a minha vida.
Estou sozinha e feliz faz 2 anos e até hoje não sei como me deixei passar por tal situação. Aprendi a gostar de mim e sinto vergonha pelo que passei. Maior parte das pessoas não sabe pelo que passei, especialmente os meus pais e a minha melhor amiga. Por isso não deixo o meu nome mas confirmo que é muito importante falar com os amigos, com a família e principalmente com um especialista quando passamos por esta infeliz obsessão, que é como eu lhe chamo.
Anónimo disse…
Ao ler estas linhas revi-me numa relação que tive. Foi o amor da minha vida, mas um desgaste emocional durante toda a nossa relação. Apercebi-me que, não foi no dia em que houve a primeira e última agressão física, mas sim mais tarde, que ele exercia em mim uma grande pressão psicológica.
Tenho-me como uma pessoa que sabe bem o que quer, mas ....... caí que nem uma patinha. Como disse foi o amor da minha vida.
A pressão psicológica era diária. Houve tantos momentos de desgaste e pressão que vou dar um exemplo. Ele era um bicho do mato, que nunca queria sair com os poucos amigos dele ou com os meus, e eu aí ... azar o dele .... estava com os meus amigos, mas havia mais uma discussão, mais um mar de lágrimas .... enfim, a insegurança dele punha em causa tudo. Do tipo. "...se vais sair com os teus amigos, é porque gostas mais deles do que de mim....". Coisa do género. Eu já nem me lembro ... é mesmo passado. Só sei que durante esse período de tempo chorei muito e estava sempre triste.
Passado uns bons dias de ter cortado relações com ele senti-me....livre.....verdadeiramente LIVRE. Foi só aí que apercebi-me, que ele tinha exercido em mim uma grande pressão emocional .... violência psicológica.
Acabei a relação a gostar dele, mas já não aguentava mais. Das duas uma, ou ía parar ao fundo do poço (onde ele passado alguns anos ainda está) ou seguia a minha vida em frente. Segui a minha vida em frente e o meu luto desta relação foi de dois anos e tal.
Agora penso, como é que deixei-me pisar tanto, com a minha maneira de ser e de pensar?????? Acho que é muito fácil cairmos numa situação destas. Mas há um ditado que nos diz "Mais vale só do que mal acompanhada". Agora sou Feliz, sózinha mas em Paz e Feliz.
Anónimo disse…
È dificil vermos as coisas quando estamos completamente "embriagados" com uma relação que já não é amor mas sim doença.
Sim, é verdade e por vezes temos força para dizer basta mas depois lá vem o doce choradinho as pazes etc. e continuamos na mesma.
Temos que ser nós próprios e gostarmos daquilo que somos, nunca deixar que alguém nos leve a fazer o que não queremos e a sermos o que não queremos porque essa capa um dia cai e tudo se desmorona ou vais deixando andar entras em depressão e sentes-te o pior ser ao cimo da terra, ninguém merece isso.
Por isso como diz a amiga Alexandra
acorda Alice e pensa que mais vale só que mal amada!!!!!!!Muita Força.
Anónimo disse…
Carência crónica! Foi o nome que eu encontrei, anos mais tarde, para os motivos que me deixaram viver, durante cerca de dois anos, uma situação de pressão emocional.
Não havia violência física, no entanto era sufocante. O meu sistema nervoso começou a descontrolar-se, ao ponto de emagrecer sem motivo aparente, ao ponto de tentar abrir a porta do carro para sair para a estrada, enquanto escondia da família e dos amigos o que se passava.
Não é difícil confundir amor com obsessão, ciúme com paranóia, principalmente quando se é muito jovem e inexperiente, em relação á vida, ás pessoas, e quando, pela primeira vez, alguém nos dedica toda a atenção, que antes precisámos e não tivemos.

Uma coisa é fundamental: Os outros só nos fazem aquilo que nós permitirmos que nos façam.
Maria Elisa disse…
“Um agressor é sempre um agressor”

Nos estudos desenvolvidos ao longo dos anos, não existe um perfil traçado nem de agressor nem de vítima. São de todas as idades e atingem qualquer estrato económico-social. No entanto, de acordo com palavras da activista, os agressores apresentam comportamentos semelhantes. “Eles acham-se donos delas porque escolheram aquela mulher, seduziram-na e elas têm que fazer o que eles querem”, revela. “A mulher é encarada como um objecto de desejo, um objecto de posse”, acrescenta Maria José Magalhães.

A responsável da UMAR realça que, depois da violência, vem a “chantagem emocional”. Ao “não sei viver sem ti” ou “ninguém te amará tanto como eu”, segue-se a ameaça do “se não és para mim não és para mais ninguém”, exemplifica.

“Um agressor é sempre um agressor. Eles batem, humilham, prendem, fecham à chave, tiram dinheiro, violam”, sublinha a vice-presidente. A vulnerabilidade da vítima perante o agressor deve-se sobretudo ao facto de as mulheres quererem ser perfeitas e, como não o são, “passam a vida a culpabilizar-se”, explica a responsável.

As consequências da violência doméstica afectam mulheres em todo o mundo, independentemente das diferenças culturais, religiosas ou sociais. A longo prazo, uma vítima de violência doméstica pode ter perturbações a nível cognitivo, de concentração e de memória. É o denominado “Síndrome da Mulher Abusada”. “Estas vítimas levarão anos a encontrar o seu equilíbrio e a encontrar-se a si próprias”, conclui Maria José Magalhães, presidente da UMAR.
Salseira disse…
Só quem já passou por uma situação destas pode perceber como é possível meter-se nelas...

Aconteceu-me a mim...

Antes de me ter acontecido, se via um filme sobre este tema pensava sempre "mas porque é que ela deixa?".

Ela deixa porque foi deixando devagarinho, ela deixa porque muitas vezes sente culpa pelas situações que dão azo ao ciúme, ela deixa porque confunde ciúme com amor, ela deixa porque uma vez ou outra reagiu e sentiu-se extremamente culpada, ela deixa porque tem medo de perder, ela deixa porque ele vai de mansinho, ela deixa porque tem vergonha, ela deixa porque "tirando isso" ele é um querido, um protector, o melhor amigo.

Na SIC, à tarde, está a dar as "Mulheres Apaixonadas". A semana passada deu a cena em que a professora de ginástica vai apresentar queixa do marido. É uma cena terrível, principalmente quando lhe dizem que ele vai provavelmente pagar uma multa ou fazer serviço cívico.

As coisas podem ser diferentes cá... mas não são assim tão diferentes. Ela deixa também por isto.

Quando leres tudo isto vais pensar "Credo! Não é nada disto que se passa! É apenas ciúme!". Pois... mas começa assim...
AlexB disse…
…A realidade é que as vítimas de violência física e emocional são maioritariamente femininas. No entanto, se pensarmos em alguns casais com quem convivemos, acabamos por nos aperceber que não é assim tão invulgar encontrar homens também vítimas de violência por parte das namoradas ou esposas, especialmente de violência psicológica.
Muitas mulheres tentam e muitas vezes conseguem exercer poder sobre os homens, levando-os a fazer só o que elas querem, amuando, castigando, maltratando verbalmente se não conseguirem que eles correspondam. O ciúme feminino doentio também é bastante fácil de encontrar. Na verdade é a mesma forma de manipulação, de invasão de privacidade, de violência que estamos aqui a comentar.

Um amigo meu teve uma namorada completamente controladora. Depois de contar algumas histórias que aconteceram com ele, fiquei com a ideia que ainda hoje ele acha que aquilo é que era amor.
Uma das mais surpreendentes situações que lhe aconteceram foi quando ela, sem que ele soubesse, requereu à operadora telefónica, uma relação descriminada das chamadas telefónicas dele. Esta informação era mensalmente analisada por ela até à data em que ele descobriu.
Outra situação, que pelos vistos acontecia frequentemente, era a quantidade absurda de mensagens que ela lhe deixava no telemóvel quando ele, por alguma razão, não atendia uma das inúmeras chamadas diárias dela.

Conheço outro casal, em que ele não pode sair com os amigos sem que haja discussão e zanga. Frequentemente ela mostra-se bastante ciumenta, tornando-lhe a vida num inferno quando ele fala com uma desconhecida ou qualquer mulher em quem ela não confie. Quando qualquer decisão é tomada sem o conhecimento ou aprovação dela as coisas tornam-se complicadas para ele. Uma das grandes armas dela é a chantagem emocional o que, na maior parte das vezes resulta, fazendo-o ceder.

Outro amigo hesita sempre quando é convidado para sair, com receio de se comprometer, uma vez que não sabe ao certo se vai ou não obter autorização da namorada. Por várias vezes já confessou que é ela quem toma as decisões, mesmo não estando ele de acordo. A frase que ele mais usa é: tenho primeiro que falar com ela!!!

Desde que casou outro amigo teve que deixar de fazer a maior parte das coisas que mais gosta entre elas conviver com os amigos de longa data. Os familiares da esposa passaram a ser os únicos possíveis companheiros para qualquer saída, passeio ou convivo. Quando ele tenta combinar algo com os amigos ou familiares dele ela sempre arranja uma desculpa para faltar.

A violência entre os casais expressa-se de muitas formas, as quais nem sempre são consideradas como tal por fazerem parte do que é considerado “normal”.
Nem sempre as pessoas se respeitam mutuamente, achando que detêm o poder sobre o outro só porque namoram ou se casam com essa pessoa.
É bastante normal que situações de partilha de sentimentos levem as pessoas a achar que podem tudo, mas não é verdade: amar é respeitar e não mandar ou exercer poder sobre alguém!
Provavelmente nem sempre conseguimos determinar o que é violência porque todos nós, de certa forma, tendemos a querer comandar, controlar e se não tivermos cuidado, se não soubermos respeitar, tanto o outro como a nós próprios, a fronteira do aceitável é ultrapassada com muita facilidade!