ODE...

…já comecei o dia stressada, 7:00 da manhã e já a correr para não me atrasar para o trabalho… stress para fazer os pagamentos, pois as colegas estão a chegar para a reunião… algumas interrupções…chamada e e-mail que não posso responder… só ás 20:00 estava a sair, com receio de ter esquecido de fazer algo urgente, importante, de grande responsabilidade… distância, fila para chegar, condutores palermas, parque de estacionamento cheio… ora desce ora sobe a rua, com tanto stress nem tempo há para pensar se estou na rua certa… a porta vai fechar e se não entrar perco o suposto entretém da noite… chamadas de alerta que não me deixam pensar… suada, cansada, stressada, consegui por fim chegar…

De repente o Diogo grita:

“Ahò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò - yyy...
Schooner ahò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-ò-oò -yyy...)”

“Ah seja como for, seja por onde for, partir!
Largar por aí fora, pelas ondas, pelo perigo, pelo mar.
Ir para Longe, ir para Fora, para a Distância Abstrata,
Indefinidamente, pelas noites misteriosas e fundas,
Levado, como a poeira, plos ventos, plos vendavais!
Ir, ir, ir, ir de vez!”

“Eh-eh-eh-eh eh! Eh eh-eh-eh eh! Eh-eh-eh eh-eh-eh eh!
Eh lahô-lahô laHO-lahá-á-á-à-à!”

“Homens que vistes a Patagônia!
Homens que passasses pela Austrália!
Que enchesses o vosso olhar de costas que nunca verei!
Que fostes a terra em terras onde nunca descerei!
Que comprastes artigos toscos em colônias à proa de sertões!
E fizestes tudo isso como se não fosse nada,
Como se isso fosse natural,
Como se a vida fosse isso,
Como nem sequer cumprindo um destino!”

“Fifteen men on the Dead Man's Chest.
Yo-ho-ho and a bottle of rum!”

Depois de ouvir isto quieta e pasmada fiquei mais calma… afinal esta noite não sou só eu com vontade de fugir e gritar…

“Ir convosco, despir de mim - ah! põe-te daqui pra fora! -
O meu traje de civilizado, a minha brandura de ações,
Meu medo inato das cadeias,
Minha pacífica vida,
A minha vida sentada, estática, regrada e revista!”

Maravilhosa “Ode Marítima” de Álvaro de Campos, tão bem interpretada por Diogo Infante e tão bem tocada por João Gil. Vale a pena!!!

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