COISAS DA VIDA



Ontem vi um filme, “Um Homem de Família”/”The Family Man”, com Nicolas Cage, que me fez pensar: como seria hoje a minha vida se, a certo momento, tivesse optado por outro caminho?...
Se em 1976 os meus pais não tivessem decidido vir para Portugal e tivéssemos ficando a viver em Moçambique, na minha terra Natal?
Se me tivessem deixado entrar para a 1ª classe em 1977 e não em 1978?
Se em 1987, no 10º ano escolar, tivesse escolhido uma área diferente, Artes em vez de Humanísticas?
Se em 1990 não me tivesse inscrito nas aulas de dança e não tivesse conhecido tantas e maior parte das pessoas e amigos que influenciaram a minha vida? E se tivesse ido para a Força Aérea nesse ano, como cheguei a querer?
Se em 1992 não me tivesse inscrito no curso universitário de ciências da comunicação, três dos melhores anos da minha vida, não tivesse conhecido duas boas amigas que ainda mantenho, com quem já vivi muitos bons momentos, e não tivesse começado a trabalhar em part-time na empresa em que ainda hoje trabalho?
Se em 1994 não tivesse começado uma relação que durou cerca de sete anos, que me fez crescer e que marcou uma fase muito importante da minha vida, e tivesse ido para o Algarve fazer o curso de turismo?
Se em 1995 não tivesse desistido do curso e tivesse tido um filho?
Se em 1999 tivesse casado?
Se em 2000 não tivesse decidido fazer a minha primeira viagem sozinha, algo que me fez ver a vida de uma nova prespectiva, me deu mais confiança e me tornou completamente independente?
Se em 2002 não tivesse ido a Cabo Verde?… E se essa viagem me tivesse feito tomar outras decisões, se não tivesse sido tão terra-a-terra?
Se em 2003 não tivesse começado uma nova relação que durou cerca de seis anos? Se me tivesse casado com essa pessoa e tido filhos?
Se em 2004 não tivesse comprado o meu apartamento, o meu ninho, o meu canto?

Como seria a minha vida hoje, casada, divorciada, viúva, com filhos, seria à mesma solteira, rica, pobre, mais ou menos feliz, teria optado pela carreira certa, estaria viva?
Uma simples decisão teria mudado completamente tudo o que sou ou o que conquistei! Por isso devo estar feliz com as decisões que tomei ou que a vida me ajudou a tomar, pois nunca irei saber como seria se tivesse tomado outras diferentes! Não me arrependo, foram decisões pensadas, medidas, algumas difíceis, mas foram as certas no momento em que as tive que tomar!
A vida é um labirinto, um puzzle, um grande mistério! O certo é seguir em frente e viver!

Comentários

Alex.B disse…
Se em 25 de Julho de 1975 não se tivesse dado a independência de Moçambique, seguida por uma guerra civil que durou até 1992, os meus pais não teriam decidido vir para Portugal em Agosto de 1976.
Tinha cinco anos nessa época e até então, pelo que me lembro e pelo que ouvi contar, tínhamos uma vida pacata, confortável! Vivia-se harmoniosamente na Beira, a segunda maior cidade de Moçambique, um calor agradável, belas praias, uma cidade organizada, estruturada, prospera, bem mais moderna e com menos preconceitos, comparando com a maior parte das cidades em Portugal.
Não vou falar sobre politica, racismo, abusos, tudo o que se poderia esconder por detrás daquela harmonia.
Até um certo ponto a vida era bem mais confortável para maior parte dos pátrios, ao contrário do que se passou nos anos que se seguiram.
Visitei a Beira em 1997 e conversando com alguns locais, eram notórias as saudades da época que antecedeu a independência, saudades dos portugueses!

De qualquer forma, pela ordem histórica a independência de certo iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Se os meus pais tivessem decidido ficar em Moçambique muitas coisas na minha vida não seriam como são hoje, provavelmente nem a minha personalidade seria a mesma.
Dificilmente consigo imaginar uma outra opção de vida a partir dessa data.

A educação foi uma das imensas falhas no sistema independente Moçambicano. Apesar da taxa de analfabetismo ter diminuído nos primeiros anos após a independência, pouco ou nada mais se desenvolveu na área da educação. Estaria então a minha instrução ameaçada.
Os empregos dos meus pais estariam também ameaçados ou extintos a nossa casa tomada e os nossos bens aniquilados.
A única opção válida teria sido a ida para outro país que não Portugal.
Uma vez que os meus pais não falavam inglês, os países circundantes possíveis, África do Sul e Zimbabwe, provavelmente não teriam sido opção.
Tendo a minha mãe família em Portugal, a nossa vinda foi sem dúvida, a única opção viável a tomar naquela ocasião.

Pelos vistos não teria sido este, o desvio do meu caminho.
Anónimo disse…
Se não tivesses vindo, não teria o prazer de ter conhecido uma Amiga tão valiosa quanto TU!!
Ainda bem que aqui estas, bem Haja por seres quem és!!
Um beijo da tua e sempre Amiga Lígia
Alex.B disse…
Se pensarmos bem, a escola, os professore e os colegas são referências muito importantes e decisivas nas nossas vidas.
Há 34 anos, nem todas as escolas aceitavam a inscrição de uma criança, para a 1ª Classe, com menos de seis anos.
Como as inscrições eram e continuam a ser em Junho/Julho e eu faço anos em Agosto, os meus pais só me conseguiram inscrever no ano seguinte, o que fez com que eu entrasse para a 1ª Classe com sete anos de idade.
Hoje penso, de que forma esse facto poderá ter afectado o meu destino, a minha vida, as minhas escolhas…
Lembro-me que era muito tímida e a minha estatura alta e magra, tipo escadote, era impossível de disfarçar perante todas as outras crianças baixas de cinco e seis anos, o que me tornava ainda mais tímida.
Por sorte tive uma boa professora, à moda antiga, que me ensinou muito bem as bases necessárias, desde a 1ª à 4ª classe, com algumas reguadas à mistura.
Sempre fui uma das melhores alunas e ainda me lembro como o meu lado artístico, em muitas ocasiões notório, nunca foi estimulado pela professora, muito pelo contrário!
Nenhum dos colegas que me acompanharam esses quatro anos fizeram parte do meu crescimento nos anos seguintes mas, garantidamente, de alguma forma, influenciaram esses poucos mas muito importantes anos da minha vida.
Consigo lembrar-me perfeitamente de todas as caras dessa turma, coisa que não consigo fazer com as turmas dos anos seguintes.
Se tivesse entrado um ano mais cedo não teria tido nem aquela professora, nem aqueles colegas, nem tão pouco teria frequentado aquela escola. Sem duvida teria perdido todas as pequenas e grandes referências adquiridas naqueles quatro anos. Por consequência todas as referências dos anos seguintes teriam sido diferentes… e hoje, provavelmente seria uma pessoa diferente!
Estranho pensar nisso!...
Anónimo disse…
Também já pensei nisso, se em certa altura da minha vida tivesse tomado outras opções...se tivesse seguido artes em vez de ciências, agora poderia estar a acabar o curso de arquitectura ou design, não teria de conviver tds os dias com o sofrimento das pessoas doentes e das suas famílias, teria uma vidinha mt mais descansada sem duvida...ás vezes penso que já está td pré-determinado, se pensar bem a área da saúde nunca foi uma das minhas opções e de repente vejo-me a colocar como primeira opção no ingresso à faculdade "Enfermagem", estarei eu maluca? pensei!...era para ser assim certamente... conheci montes de gentes porreira e tive experiências incríveis, superei medos e receios, tive a vida de muitos na minha mão...não desisti e finalizei um curso para o qual não tinha a mínima queda, nem sei bem porque optei por tirá-lo...e se não fosse assim? como seria?!...

Pandora Salvado 2010